GUILHERME SAWAYA, DIRETOR DE INCORPORAÇÃO E INOVAÇÃO DA YUNY INCORPORADORA

ENTREVISTA GUILHERME SAWAYA

Jornal Valor Econômico

Curioso sobre como a tecnologia dita tendências e muda o comportamento das pessoas, Guilherme Sawaya, atual Diretor de Incorporação e Inovação da Yuny Incorporadora, resolveu levar essa sua inquietação ao mercado imobiliário. Na companhia, conta com o Yuny Lab, um time dedicado a estimular a inovação em todas as áreas. “Repetir receita é uma prática que faz a companhia perder a relevância aos poucos. Quem não se mexe está ficando para trás sem perceber”, afirma. Acompanhe na entrevista a seguir.

Inovar é preciso?

Guiilherme Sawaya – Acredito muito na mistura da teoria com a prática. E acredito zero em repetição de receita. Na minha visão, é uma prática que faz a companhia perder a relevância aos poucos, em um movimento silencioso. Quem não se mexe está ficando para trás sem perceber. Essa inquietação colabora para a criação de soluções mais interessantes, produtos mais legais e que consigam atender de maneira positiva e inesperada os stakeholders. O mercado de incorporação tem um ciclo longo de dez anos entre a escolha do terreno e o prazo final da garantia pós-entrega. É preciso trabalhar sempre de olho no futuro.

O mercado imobiliário inova pouco?

O mercado imobiliário inova pouco e copia muito. Na incorporação, pega-se uma tendência, um modismo, o que alguém fez e deu certo e faz igual. E nem sempre o que funcionou em um determinado lugar e momento vai funcionar novamente. No setor, existem movimentos bem interessantes, puxados por startups ágeis que usam a tecnologia para fazer essa indústria avançar. São treinados para identificar as dores deste mercado e apresentar soluções em alguns dias.

Somos muito abertos a testar soluções e fazer provas de conceito, mesmo sabendo que pode dar errado.

Inovação é apenas tecnologia?

Sem dúvida que não. A tecnologia está em tudo, mas inovar é conhecer bem seu negócio e estar aberto a enxergar alternativas usando suas próprias competências. Por exemplo, começamos no segmento de imóveis para renda. Qual a diferença para o que fazemos e desenvolver um empreendimento para locação em vez da venda? Inovar é isso: conhecer suas competências, dores e possibilidades.

Esse é o papel do Yuny Lab?

Yuny Lab é duas coisas: o departamento de inovação em si, com 35 colaboradores e faz interface com as startups, conduz seminários com técnicas de design thinking para extrair ideias. São facilitadores para ajudar os funcionários de outras áreas a inovar.

Treinamos a empresa inteira para se incomodar com a mesmice, com o trabalho repetitivo e com dores com que convivemos há muito tempo. Então, Yuny Lab é um mindset também. Ensina que tudo bem testar, errar ao buscando soluções, e que há dinheiro para isso.

Poucas empresas têm essa visão. Aqui, a pessoa não é repreendida por testar ideias e errar. Pelo contrário, pode até receber um aumento por testar bastante.

Paga-se para errar?

Inovação é ineficiente: você testa dez vezes para acertar uma. É como ciência, pesquisa e desenvolvimento, algo que continuará nas mãos do ser humano por muito tempo. E tudo bem ser ineficiente nesse sentido.

Qual o budget para testar as soluções?

Não temos um valor definido. O que posso dizer é que não custa tanto. Protótipos e provas são baratos e servem apenas para comprovar as teses que, quando dão certo, geram uma economia grande porque substituem processos de milhões por sistemas mais simples.

Quais inovações tecnológicas já deram resultado?

Uma inovação com resultado positivo foi o Elevador Jerônimo. Um ambiente imersivo e sensorial no estande de vendas do empreendimento 155 Jerônimo, no Itaim, que simula um passeio pelos apartamentos e áreas do condomínio por meio de painéis de LED e realidade aumentada. Graças a ele, vendemos sete unidades do prédio.

Agora, estamos finalizando um sistema que substituirá outros três, mais antigos, dentro do atendimento ao cliente no pós-venda, dentro do prazo de garantia das unidades. Essa nova plataforma vai permitir acompanhar toda a jornada do serviço de manutenção, avaliando a qualidade e dando mais agilidade aos chamados.

Blockchain, tokenização, metaverso: essas tecnologias pegaram no mercado?

Eu não engavetaria essas tendências, mas muitas ideias boas vêm no timing errado, seja por conta de legislação ou regulamentação. A tokenização, por exemplo, ainda vai encontrar o momento certo. Mas temos que ir à raiz do problema: as pessoas querem comprar um imóvel fracionado? Para mim, sim. Para o investidor, ele pode diversificar sua carteira. Para quem vai morar, pode adquirir o imóvel aos poucos. Acredito que ainda encontrarão a ferramenta certa para essa tecnologia.

O ano vem debatendo muito a questão da inteligência artificial. Como avalia seu uso no mercado imobiliário?

A inteligência artificial está presente há bastante tempo, mas não era acessível para maioria da população. Agora ela está – e o Chat GPT simboliza isso. No setor de incorporação, um exemplo de uso pode estar na busca de terrenos. Se for alimentada por diversas fontes de informação, com todos os dados, e a interface for amigável, a plataforma indicará onde investir em áreas que trarão os melhores resultados de vendas.

As pessoas passarão a buscar imóveis com a ajuda da inteligência artificial?

Sim, e nós queremos saber como poderemos orientar essa plataforma a sugerir nossos empreendimentos, mas ainda não há como fazer. Tudo o que aprimorar a experiência do cliente tende a dar certo. A busca por imóvel é como um Tinder, aquele aplicativo de relacionamento: você diz o que procura, qual o tipo de uso desejado do imóvel, e a inteligência artificial vai responder com as opções que podem dar o match perfeito.

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