PLANTAS INTELIGENTES DÃO FLEXIBILIDADE AOS IMÓVEIS

Tecnologia permite que a área privativa das residências seja adaptada para atender às necessidades diversas Estruturas modulares que criam ambientes de tamanhos e propostas distintas dentro do mesmo apartamento são a nova aposta do setor imobiliário para atender aos diferentes momentos de vida do morador. A chegada de um filho, um novo home office ou mesmo a adaptação da planta para obter uma fonte de renda podem ser contemplados com essa nova tecnologia construtiva, que vai muito além de derrubar paredes ou unir unidades vizinhas.

Esses projetos inteligentes possibilitam a criação de plantas mutantes ao longo do tempo. Um exemplo bem-sucedido desse tipo de abordagem acontece no Recife, onde a startup Molegolar desenvolveu módulos independentes que podem ser conectados e formar espaços conforme a necessidade.

‘Eles podem ser unidos pelos lados, por cima ou por baixo, sem as limitações que são comuns quando o morador deseja fazer uma mudança na planta ou opta pela junção de apartamentos’, explica o engenheiro civil e arquiteto Saulo Suassuna Fernandes Filho, criador da startup.

No conceito, a ideia é ter unidades projetadas em módulos, com estruturas independentes que podem ser montadas ao gosto do cliente, como se fossem peças de Lego. Na prática, isso significa que um cliente com filhos pode comprar, por exemplo, quatro módulos de 50 metros quadrados e ter um apartamento de 200 metros quadrados para acomodar a família. Mais tarde, quando os filhos saírem de casa ou houver necessidade de obter renda extra, ele pode formar dois apartamentos de cem metros quadrados – um para morar e outro para vender ou alugar. Tudo de forma ágil, sem maiores complicações estruturais.

Atualmente, dez empreendimentos da capital pernambucana utilizam essa tecnologia – todos com grande sucesso comercial. O mais recente é o Ariano Suassuna, com unidades que variam entre 80 e 405 metros quadrados.

Em São Paulo, a Tecnisa S.A. ‘importou’ o recurso criado pela startup nordestina e pretende lançar um empreendimento todo modularizado no bairro da Chácara Flora, na Zona Sul da cidade. Ainda sem nome definido, o residencial contará com 60 apartamentos de 258 metros quadrados.

‘Cada unidade terá até quatro diferentes opções de layouts internos, que poderão sofrer alterações durante o tempo sem perder a originalidade, como se tivessem sido concebidos com aquela disposição desde o início’, explica Alexandre Mangabeira, diretor-executivo de Incorporação da Tecnisa.

Atender a demandas do mercado com rapidez e baixo custo é outra vantagem das plantas inteligentes e modulares. Mudanças de zoneamento ou de perfis de público podem ter respostas mais rápidas com essas estruturas.

Com foco no cliente investidor, a Vitacon criou o conceito Pixel Life: empreendimentos com projetos que permitem a integração entre estúdios em todos os sentidos, como se fosse um jogo Tetris, para que os compradores tenham a opção de modificar as configurações originais e oferecer modelos diferentes para locação. ‘A facilidade para fazer essas transformações nos layouts é tremenda, com a vantagem de que o custo disso é extremamente barato’, afirma o CEO Ariel Frankel.

O primeiro lançamento da incorporadora com esse conceito será na Vila Mariana, com módulos de 20, 35 e 45 metros quadrados, cujos valores de venda partem de R$ 299 mil e podem chegar a quase R$ 1 milhão. ‘O valor estimado para locação varia de cerca de R$ 2,5 mil a R$ 7,9 mil, com uma rentabilidade média de cerca de 10%, algo muito interessante’, acrescenta Frankel. Os próximos Vitacon Pixel Life serão erguidos nos bairros de Santo Amaro e Consolação.

Cresce demanda pela customização de espaços

Empresas veem crescer interesse pela personalização de imóveis e oferecem serviços dedicados como mais um apelo de venda

Mesmo antes de essas novas tecnologias criarem estruturas modulares que facilitam alterações nos apartamentos, a proposta de customização dos imóveis já fazia parte do apelo de vendas em São Paulo desde meados dos anos 2000.

Em 2007, a MaxHaus surgiu com o conceito de ‘planta aberta’, em que as unidades de 70 metros quadrados continham apenas o banheiro como área previamente delimitada. A proposta fez um grande sucesso, e 16 empreendimentos da marca foram erguidos na capital paulista, expandindo ainda para o litoral, interior e outros estados, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Atualmente, o número de empresas que oferecem essa facilidade aumentou devido ao interesse crescente dos consumidores. ‘Mais de 80% dos nossos clientes customizam seus apartamentos’, afirma Lilia Ganiko, coordenadora de Personalização da Yuny Incorporadora.

Segundo ela, mais do que alterações nas plantas, os compradores têm procurado mudar inclusive os acabamentos originais – com custos abatidos e garantia da incorporadora. ‘Quando o cliente recebe as chaves, o imóvel que sonhava já es-tá pronto para morar, sem passar pela dor de cabeça de uma reforma.’

A Ideia!Zarvos é outra empresa atenta a essa demanda do mercado. Em 2006, a companhia lançou o edifício 4Ã-4, cuja estrutura já possibilitava que as paredes do apartamento fossem construídas em qualquer lugar do imóvel.

‘Criamos projetos com plantas flexíveis em praticamente todos os novos empreendimentos’, diz o CEO Otávio Zarvos, informando que esse conceito facilita ainda a realização de retrofit do edifício no futuro. ‘Um prédio tem um tempo de vida muito longo, e é importante que possa mudar de acordo com novas necessidades que surgem, não apenas do ponto de vista pessoal, mas urbanístico também.’

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