PEIXES GRANDES NO ITAIM

Projetos ambiciosos para o bairro saem do papel e incluem praça 'nova-lorquina', um shopping de luxo com frente para a Faria Lima e até uma milionária baleia gigante

O gaúcho Rafael Birmann, 68, agitou o mercado de escritórios de São Paulo nos anos 90 ao disseminar pela cidade os edifícios ‘triple A’, uma classificação para endereços comerciais superluxuosos à época.

Fez arranha-céus na Faria Lima onde hoje estão negócios como o JP Morgan e o Deutsche Bank. No início dos anos 2000, endividado e enrolado com a alta do dólar, Birmann praticamente quebrou. Salvo por uma sociedade com Ricardo Baptista, filho do fundador da Aché, ele agora volta em alto estilo. Após sete anos de obras, o empresário inaugura o B32 (acima), na esquina da Avenida Faria Lima com a Rua Leopoldo Couto de Magalhães, um dos cruzamentos mais caros do país – 0 terreno tinha sido a última propriedade que sobrou para Birmann após ele pagar os credores. O novo conjunto é formado por um prédio comercial de altíssimo padrão (o Facebook está de mudança para lá), uma praça com cem mesas e 400 cadeiras móveis importadas dos Estados Unidos (vão ficar sobre o mosaico azul da foto acima), um novo restaurante asiático de Arri Coser (fundador da Fogo de Chão), chamado Dasian, cafés e um teatro com tecnologias inéditas na cidade. Ah, sim: e uma baleia metálica de 20 metros de comprimento com

uma passagem pelo interior de sua ‘barriga’, que promete virar ponto de referência na avenida – e, quem sabe, sucesso no Instagram. Ao todo, a empreitada ocupa 14 000 metros quadrados e custou 700 milhões de reais entre a compra de terrenos adicionais e a obra – 2 milhões só para a baleia. ‘A praça é inspirada no Bryant Park (um parque de gestão privada em Nova York). Vai ter banheiros públicos e apresentações de artistas escolhidos pela curadoria do teatro. Também faremos projeções na fachada’, diz Birmann. ‘Se vão roubar as cadeiras? Não sei, mas a cultura de experimentação urbana tem de ser vivida, experimentada’, ele afirma. Os diferenciais fisgaram a turma da tecnologia: além do Facebook, marcas como Shopee (gigante asiático do e-commerce) e Red Hat vão habitar o prédio. Dos 25 andares, restam cinco vagos e há uma fila de interessados. ‘O aluguel comercial de alto padrão na Faria Lima custa por volta de 170 reais o metro quadrado. No B32, cobramos 225. Investir em bom urbanismo se paga’, diz o empresário. O edifício já tem dois andares em atividade e deve funcionar em plena capacidade até o fim do ano. As outras estruturas da praça devem sair em outubro. Na esquina oposta, a Faria Lima vai ganhar um shopping de luxo do grupo JHSF – o mesmo que construiu o Cidade Jardim (na Marginal Pinheiros) e o CJ Shops (nos Jardins). É outra aposta de peso na região: o investimento será próximo a 700 milhões de reais, segundo fontes

desse mercado. Vai ocupar o terreno onde funcionava o bufê Casa Fasano, na mesma rua Leopoldo. Como incorporou outros imóveis vizinhos, o shopping terá sua frente principal na Faria Lima. ‘Teremos duas operações gastronômicas com mesas nas calçadas’, diz Robert Bruce Harley, CEO da JHSF Malls. Haverá também salas de cinema e uma academia com piscina. Além, claro, das grifes luxuosas que adornam os shoppings da JHSF, como um empório Fasano de 1000 metros quadrados no térreo. As obras começam no fim do ano e duram de dezoito a 22 meses. ‘É a melhor esquina de São Paulo’, acredita o executivo.

Outra investida de peso dará nova vida ao conhecido terreno do supermercado Extra da Rua João Cachoeira, a 500 metros do cruzamento onde fica o B32 e o shopping. Segundo a GTIS Partners, dona da área de 55 000 metros quadrados, o projeto com escritórios, lojas e serviços está em fase final de licenciamento. No mesmo quadrilátero, a marca Fasano vai lançar um novo hotel e residencial em 2022. Terá fachada ativa (ou seja, restaurantes e lojas no térreo) para a Rua Pedroso Alvarenga.

A onda de megaprojetos é acompanhada por um pico de lançamentos residenciais também de alto padrão no Itaim – o que pode ser positivo, afinal a Faria Lima quase exclusivamente comercial sofre com a falta de pessoas nas calçadas à noite e o excesso de trânsito para quem trabalha, mas não mora no bairro. Incorporadores que tinham comprado potencial construtivo pela Operação Urbana Faria Lima passaram a utilizá-lo para lançar prédios de apartamentos (veja o quadro). Mesmo com a oferta, os preços no bairro passam de 40 000 reais por metro quadrado em alguns bolsões de hipervalorização, como as imediações do Parque do Povo e a própria rua Leopoldo. Na média, o metro quadrado no Itaim custa 15 000 reais, segundo o DataZAP+. Na recordista Vila Nova Conceição, chega a 20 000. ‘Há dois meses, lançamos um prédio no final da Joaquim Floriano, atrás do Pátio Malzoni (sede do Google, na Faria Lima). As menores unidades, de 105 metros, custam 3 milhões. As maiores, 7, 5 milhões. Dos 48 apartamentos, já vendemos 21 e antecipamos as obras em quatro meses’, diz Dalton Guedes, 35, sócio da Yuny Incorporadora, que nesse projeto tem parceria com a Sequóia Properties.

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