ARTE SUBTERRÂNEA QUE TODO MUNDO PODE VER.

Cartões postais em Moscou e Estocolmo, o transporte público mostra a arte acessível a seus passageiros.

Além da neve que cobre suas ruas durante os longos meses de inverno, as cidades de Estocolmo e Moscou têm outra, e mais feliz, similaridade: a beleza artística de suas estações de metrô. Ao desembarcar na fria capital sueca, o modo mais fácil de se locomover do aeroporto de Arlanda ao centro da cidade é em um trem expresso.

Ainda que algumas pessoas prefiram tomar um táxi para se habituarem à paisagem nórdica, a estação de trem que se conecta com o metrô é uma experiência única e encantadora, e revela porque o transporte subterrâneo da cidade é apelidado de Maior Galeria de Arte do Mundo. Das 100 estações, 90 receberam trabalhos site-specific (obras feitas para locais determinados) e 150 artistas contemporâneos. O que se vê é uma profusão de cores, grafismos e imagens impressionantes, como o arco-íris pintado pelos artistas Enno Hallek e Åke Pallarp em 1973. Uma enorme vantagem é que a compra de um único ticket permite que se passe o dia visitando todas as estações.

Desde sua abertura, em 1950, a cidade deixou livre o espaço para que artistas fizessem intervenções nas estações. Ao longo desses 63 anos, as obras foram restauradas, refeitas,substituídas e reinventadas. Mesmo quem já esteve na cidade recentemente pode ser surpreendido com uma nova obra na próxima visita.

Grande parte das obras é pintada diretamente nas paredes rochosas, características das estações da cidade, embora muitas obras sejam feitas no próprio chão ou ainda com aplicações de azulejos ou esculturas, transformando o local em verdadeiras paisagens artificiais. Esse viés artístico se alia ao espírito da cidade, que respira arte e design entre os prédios centenários e vanguardistas que convivem lado a lado.

Já em Moscou, a maioria das obras data da primeira metade do século XX, durante o governo de Joseph Stalin. Para demonstrar o poder do governo, as opulentas estações apresentam afrescos e mosaicos dignos de palácios czarinos, dada a suntuosidade. Caracterizado pela grande profundidade onde estão os trilhos, já que as estações serviam também como abrigos antibomba durante os anos de guerra, as obras nas estações são como tesouros bem guardados.

Nas estações mais centrais, o exagero é ainda mais proeminente, como no caso da Mayakovkaya, onde os mosaicos inspirados nos desenhos de Alexander Deineka receberam o Grande Prêmio por sua arquitetura Art-Decó na Feira Mundial de Nova York em 1938, ano de sua inauguração. Outra estação imperdível é a Park, inaugurada em 1950, onde 26 esculturas de mármore

retratam as principais atividades de lazer dos soviéticos, como jogar tênis, esquiar, dançar, cantar e jogar futebol.

As esculturas foram inspiradas em ilustrações do artista Isaak Rabinovich.Depois do governo Stalin, até o final dos anos 80, as estações inauguradas receberam identidade mais austera, dado o período político do país.

Nas últimas duas décadas, no entanto, a cidade voltou a investir na arquitetura do transporte subterrâneo. Ainda que hoje seja praticamente impossível decorar espaços públicos com vitrais, cristais e outras joias, a rede de metrô recebeu obras interessantes,como a estação Dostoevkaya. Inaugurada em junho de 2010, ela homenageia o grande escritor russo Fiodor Dostoievski com mosaicos em preto e cinza que reproduzem cenas trágicas das obras do autor. Esse esforço todo do governo é um grande presente aos 8 milhões de usuários diários do sistema de transporte, um número impressionante, considerando que a cidade tem 10 milhões de habitantes. Os 15 rublos da passagem, cerca de R$ 1,20, valem muito mais do que a locomoção de um ponto a outro da cidade. É um ótimo jeito de viajar pela história de uma nação.

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